Existe uma lenda que data de tempos imemoriais, que busca explicar o desaparecimento de uma antiga civilização, da qual os humanos não fizeram nenhum registro escrito, embora houvessem convivido ao mesmo tempo e dentro de um só espaço. Seu nome exato, até hoje, não é conhecido, apesar de alguns acreditarem que Kibtz seja a denominação correta.
Tratavam-se de criaturas verdes, de pele escamosa e de cabeça raspada. Viviam na mata virgem, onde cultuavam seus deuses em um templo muito bonito, cujo modelo arquitetônico surpreendia por seu aspecto futurista. Assemelhava-se a uma pirâmide constituída por uma série de resistentes colunas, que continham pequenas frestas, que armazenava mensagens de um habitante da aldeia para outro, assim como oferendas e orações de sua religião politeísta. O complexo alfabeto desenvolvido por eles se permitiu ser esquecido através dos séculos.
Em frente ao templo, uma bela piscina fora construída. Os raios do Sol refletiam nas águas límpidas, tornando o cenário ainda mais belo e convidativo. Qualquer um que vagasse por ali, quase desfeito em suor, se sentiria tentado a mergulhar ali.
Isto é, qualquer um que ignorasse ao feitiço ao qual a piscina havia sido submetida.
Durante uma brilhante manhã, um grupo de bandeirantes explorava a região, cercando todos os pontos estratégicos. Estavam dispostos a aprisionar os nativos e confiscar tudo o que encontrassem no templo — joias, ouro, prata, pedras preciosas, pinturas e escritos sagrados.
O momento era bastante propício, visto que todos haviam se ausentado para caçar e só um pequeno ser protegia o templo: Menkata, o bebê do soberano dos Kibtz. Em sua candura, aquela curiosa espécie residente em um dos cantos mais remotos do planeta, pensara que, daquela forma, qualquer um que tentasse invadir o templo, se comoveria diante da fragilidade da criança e nada de ruim atormentaria o povo.
E não era só isso: uma armadilha inimaginável reforçava a defesa contra ataques de forasteiros.
A piscina.
Os ancestrais dos Kibtz transmitiam oralmente mitos sobre as águas da piscina. Todo ser vivente da face da Terra, não importando sua pequenez ou sua grandeza, que se banhasse naquelas águas, seria amaldiçoado para sempre.
No mesmo dia, os homens brancos chegaram ao templo. Ficam impressionados diante de sua magnitude. Sorriem e comemoram a vitória não ganha. Até que se dão pela presença de um cesto de lençóis imaculados, onde o bebê repousa. De início, não lhe atribuem importância, e põem-se dividir em grupos: três entrariam no templo, enquanto os outros três se concentrariam na entrada, avisando caso o perigo chegasse. Desses três, dois reclamam do intenso calor, tirando a camisa e se perguntando se poderiam mergulhar na imensa piscina. O outro pede para que os dois calem a boca, enquanto percorre a floresta com os olhos, sentindo o cheiro de perigo no ar. Enxerga um vulto, ao longe, entre as árvores. No desespero de dar a notícia ao outros companheiros, ainda dentro do templo, ele tropeça na cesta do bebê e, sem intenção, acaba por deixá-lo cair e, por conseguinte, possibilitou que ele penetrasse nas águas traiçoeiras da piscina.
Repentinamente, tudo mudou. O dia deu lugar a um céu escuro e tenebroso, e o grupo começou a temer o extermínio de toda vida humana. Era como se o Sol nunca mais fosse nascer e azarados seriam os remanescentes naquele canto isolado do Universo. A piscina transformou-se em uma genuína pira olímpica, onde o bebê já não mais ardia em chamas: as queimaduras estendiam-se pela sua espécie, provocando dores lancinantes que jamais sarariam.
Todos os Kibtz correram para o templo, na tentativa de compreender o acontecimento. Quando o alcançaram, recuaram, sentindo-se impotentes diante de um povo que imaginavam ser superior a eles. Ainda de acordo com sua mitologia, se alguém tivesse a infelicidade de tocar as águas da piscina, seus familiares ou seres de sua própria espécie deveriam realizar algum tipo de sacrifício.
A extinção.
Enfraquecidos emocionalmente, perante cruel tragédia, os Kibtz sucumbiram aos desejos dos homens brancos. Deixaram que levassem todas as suas riquezas e logo depois, foram aniquilados em uma dos mais sangrentos extermínios dos quais jamais se teve notícia.
E assim, por erros aparentemente banais, todo o sonho de uma civilização se entregou a um atroz destino: o desaparecer e, pior, ser esquecido para sempre.
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